sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Escravidao e Liberdade

Tornei-me escravo a partir do dia em que nasci.

Tudo porque na sua boa fe, os meus pais me ensinaram o que os pais dos pais deles lhes tinham ensinado, ensinaram-me a ver o mundo de uma forma material e concreta, entrei a partir desse preciso momento num circulo vicioso de informacao que constitui-o e realizou o mundo que me rodeou durante muitos e muitos anos e do qual so agora comeco a emergir, no momento em que nasci posso afirmar que me tornei escravo de estereotipos, dogmas e formas de ver e viver a vida que nunca foram realmente meus, mas que me foram incutidos por seculos de antiga escravidao e servidao a dogmas religiosos, sociais e politicos, de antepassados e fantasmas de antepassados com formas de pensamento retrogrado e hermetico.

Num ponto da minha existencia, tornei-me escravo do amor, da necessidade, do desejo, sonhei comprar casa e constituir familia, a casa nunca foi minha e a familia perdeu-se, restou o que restou, a escravidao das dividas e da responsabilidade, a escravidao dos bens materiais e amores fugases, a escravidao dos pequenos vicios, a escravidao de mim mesmo.

A beber um calice de vinho, sentado no sofa, ouco as Nocturnas de Chopin, iluminado pelas tremeluzentes chamas das duas grandes velas da sala, enquanto as estrelas entram pelas enormes janelas e pela claraboia, na solidao romantica e languida de uma noite a solo.
E acordado sonho com Ilhas magicas e Princesas encantadas, sonho com as viagens que hei-de fazer, com os locais que hei-de ver, com as aventuras que hei-de viver, so que as Ilhas magicas e as Princesas encantadas, nao passam disso mesmo, de sonhos Quixotescos com que tento disfarcar a enorme confusao em que me encontro neste momento de renovacao, evolucao espiritual e cognitiva, num momento em que luto com o choque entre o que me foi incutido e o que aprendi posteriormente, numa guerra entre o antigo e bolorento e o novo e misterioso, em que todas as coisas que tinha como certas e imutaveis, afinal nao passavam de meras mentiras e ilusoes, em que me apercebo de que todas as coisas que me foram incutidas eram falsas, de que afinal todos os meus fantasmas antepassados e os seus ensinamentos estavam em grande parte errados e de que o mundo e toda a sua realidade e totalmente diferente e de uma enorme complexidade e que afinal sou mais e tenho mais em mim do que aquilo que me foi levado a pensar que era e tinha.
E penso, de que e tempo de recomecar de novo, de despir a velha pele e recomecar de novo comigo mesmo e partir, sem olhar para tras, tenho a necessidade de abandonar tudo e respirar o vento, sentir a verdadeira liberdade da qual comeco a ter vislumbres.
As palavras teem poder e isto nao e um conceito vazio e uma verdade, embora para mim as mais poderosas sejam sim e nao, porque sao o nosso livre arbitrio exteriorizado, todas as palavras teem real poder porque estao impregnadas da realidade que tentam exprimir, palavras como amor, verdade, mentira, paixao, odio, sao extremamente poderosas porque tem o poder de mudar vidas so pelo simples emprego de uma delas em alguma ocasiao que as pronunciemos, liberdade e uma delas.

Liberdade, como e que uma simples palavra pode exprimir tudo aquilo que esta consegue? E como e que esta palavra e o conceito por detras dela nos pode escravizar?

Por exemplo estamos a tornar-nos escravos do sistema e das instituicoes em prol desta palavra.
Ouco muita gente a falar de liberdade, eu proprio falo muito de liberdade, mas afinal saberei o que e a verdadeira liberdade?
Para ja o que e liberdade? qual o conceito?

..."Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários."... (http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade).

Temos a nocao de que a liberdade e um acto fisico, mas a liberdade nao e somente fisica, nao se processa principalmente a nivel fisico mas sim a nivel psicologico, a verdadeira liberdade processa-se quando conseguimos nos libertar de nos mesmos, da prisao da nossa mente, ela e a senhora toda poderosa de nos, a nossa mente e o que nos retem enclausurados aos nossos pequenos/grandes vicios, medos, orgulhos, vaidades, odios, credos, dogmas, desejos, sonhos, ela e que nos mantem no aqui e no agora, no presente e no passado, no espaco e no tempo.

Mas como nos libertarmos da sempre e omipresente mente, razao e pensamento, como nos libertarmos de nos mesmos, como conhecermos a verdadeira liberdade?

Qual a forma de buscarmos a liberdade total do ser? A nossa condicao primeva.

Para evoluir, o homem deve primeiro libertar a sua consciencia das amarras da ordem social, liberdade e alcancar nem que seja por breves instantes algo mais do que simples pensamentos e sentimentos, mas isso seria entrar em campos desconhecidos das nossas pessoas afim de obtermos o conhecimento total de nos e isso requer disciplina, vontade e uma total ausencia de medo, ou seja a verdadeira liberdade nao seria so a constituicao e a condicao dos comportamentos humanos voluntarios mas o transcender desses mesmos comportamentos, seria a nao limitacao, o completo acesso ao mais intimo de nos, o total acesso ao controle de nos mesmos e da nossa existencia, a verdadeira liberdade em toda a acepcao da palavra.

Resta saber ate que ponto estamos preparados para isso, ate que ponto estamos preparados a prescindir dos nossos conceitos pessoais e sociais, das rotinas da nossa vida em busca da liberdade, resta saber ate que ponto deixamos de somente falar, deixamos de somente sonhar com ela e passamos a descobri-la por inteiro, a aceita-la como facto e a faze-la parte integrante da nossa forma de estar e de ser, resta saber ate que ponto nos conseguiremos transcender a nos mesmos na realizacao do facto de conseguirmos e podermos ser realmente livres de amarras de todo o tipo, livres das amarras de nos mesmos, livres das amarras da nossa consciencia.

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