quarta-feira, 29 de julho de 2009

Jose Regio

Jose Regio, pseudonimo de Jose Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde, onde viveu ate completar o quinto ano do liceu, apos o que continuou a estudar no Porto.
Aos 18 anos, foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Romanica (1925), com a tese "As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa", esta nao foi muito, sobretudo pela valorização que nela fazia de dois poetas entao quase desconhecidos, Mario de Sa-Carneiro e Fernando Pessoa, esta tese, refundida, veio a ser publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa (1941).
Em 1927, com Branquinho da Fonseca e Joao Gaspar Simoes, fundou a revista Presenca, que veio a ser publicada, irregularmente, durante treze anos, esta revista veio a marcar o segundo modernismo portugues, que teve como principal impulsionador e ideologo o proprio Jose Regio.
Como escritor, Jose Regio dedicou-se ao romance, ao teatro, poesia e ensaio. Os temas centrais na sua obra, sao as problematicas do conflito entre Deus e o Homem, o individuo e a sociedade, numa analise critica das relacoes humanas e da solidao, do dilaceramento interior perante a relaçao entre o espirito e a carne e a ansia humana do absoluto, levando a cabo uma auto-analise e uma introspeccao constantes, a sua obra e fortemente marcada pelo tom psicologista e simultaneamente por um misticismo inquietador que se revela em motivos como o angelismo ou a redencao no sofrimento.
A sua poesia, de grande tensao lirica e dramatica, apresenta-se frequentemente como uma especie de dialogo entre niveis diferentes da consciencia, a mesma intensidade psicologica, aliada a um sentido de critica social, tem lugar na ficcao, como ensaista, dedicou-se ao estudo de autores como Camoes, Raul Brandao e Florbela Espanca.
Na revista Presença, assinou um editorial ("Literatura Viva") que constituiu uma espécie de manifesto dos autores ligados a este orgao do segundo modernismo portugues, defendendo a necessidade de uma arte viva, e nao livresca, que reflectisse a profundidade e a originalidade virgens dos seus autores.
Partilhou ainda, com o irmao Julio Maria dos Reis Pereira, o gosto pelas artes plasticas, tendo chegado a desenhar uma capa para a Presenca e feito os oito desenhos que, a partir da 5 edicao, ilustram os Poemas de Deus e do Diabo.
Em 1966, Regio voltou para Vila do Conde, onde veio a morrer em 1969.
E considerado, por alguns, como um dos vultos mais significativos da moderna literatura portuguesa, recebeu, em 1961, o premio Diario de Noticias e, postumamente, em 1970, o Premio Nacional de Poesia, pelo conjunto da sua obra poética. As suas casas de Vila do Conde e de Portalegre sao hoje museus.

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


fontes: http://www.astormentas.com/regio.htm , http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_R%C3%A9gio

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